A ordem do Ministério da Justiça na Espanha de que sejam substituídos dos registros civis os termos "pai" e "mãe" pelos de "Progenitor A" e "Progenitor B" suscitou a imediata e enérgica reação das famílias e líderes de opinião que denunciam a existência de um "processo ideológico de desconstrução da família" e "uma implacável operação de engenharia social".

Para o Vice-presidente do Foro Espanhol da Família (FEF), Benigno Blanco, "existe um processo ideológico de desconstrução da família" e "se pretende mudar a visão da sociedade sobre a filosofia de gênero".

O porta-voz do Foro que reúne cinco mil associações e representa mais de quatro milhões de famílias na Espanha, afirmou que "esta modificação da linguagem, de marido e mulher a cônjuges, de pai ou mãe a progenitor A ou B, não é mais que uma mudança de palavras que tem como fim mudar a mentalidade das pessoas".

A ordem ministerial de adequação do livro de família e dos registros de casamento e nascimento foi publicada no Boletim Oficial do Estado (BOE) na sexta-feira passada.

O FEF manifestou, do mesmo modo, não compreender que os modelos oficiais de certificações do registro de casamento sejam dois, dependendo de se o casamento for entre pessoas do mesmo sexo (cônjuge A e B) ou de diferente sexo (marido e mulher) e que esta opção desapareça no caso das inscrições de nascimento.

Com efeito, e apesear da tentativa por parte da diretora geral dos Registros e do Cartório, Pilar Blanco-Morales, de confundir a opinião pública ao declarar que os termos pai e mãe "não desaparecem" do registro civil no registro de nascimento, o BOE especifica que "a expressão ‘pai’ será substituída pela de ‘progenitor A’ e a expressão ‘mãe’ pela de ‘progenitor B’".

"Implacável operação de engenharia social"

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Por outro lado, o influente jornalista Juan Manuel Da Prada, assinalou que esta reforma semântica não é uma "mera concessão grotesca à correção política" mas sim elimina a natureza dual da filiação e oculta uma "implacável operação de engenharia social".

"Não é preciso uma inteligência privilegiada para intuir a operação de engenharia social que se oculta detrás de tão extravagante direito a ‘inventar-se’ a si mesmo. Feminilidade e masculinidade se convertem em entidades automaticamente persecutíveis. Nega-se a existência do instinto materno; também, é obvio, a possibilidade de que os afetos que um pai e uma mãe tem com seus filhos sejam diversos", afirma De Prada no jornal ABC.

Segundo o jornalista, desta maneira, "a família tradicional se torna ipso facto em uma forma de organização social obsoleta, de um estatismo indesejável; as relações naturais surgidas em seu seio, entre as que a filiação ocupa um lugar primitivo, devem ser combatidas. Eis que a filiação não se escolhe: pressupõe um pai e uma mãe que não são aleatórios, mas sim estabelecidos por um ato procriador. Pai e mãe são expressões inequívocas da realidade dual do ser humano; dualidade que a ideologia de gênero aspira a destruir".

A estratégia, continua De Prada, consiste em apresentar "em primeiro lugar o matrimônio como uma união de caráter puramente contratual, configurável, modificável e rescindível a gosto dos cônjuges (que já não precisarão mais ser marido e mulher)".

"Os ideólogos de gênero sabem que a família com pai e mãe infunde nos filhos a noção –tão natural, aliás– de que homens e mulheres somos diferentes; para apagar esta noção do disco rígido das novas gerações, a ideologia de gênero habilitou um sofisma tão áspero como eufônico: ‘Diferença significa desigualdade’. Ao anular as diferenças –nos vendem–, ao evitar que pais e mães se comportem como tais, instauraremos uma idília sociedade igualitária", prossegue.

Para o jornalista, a desnaturalização que significa eliminar as diferenças entre homens e mulheres, "começa a consagrar-se através da linguagem" e dali que estas reformas semânticas, não só obedecem a um "ridículo prurido de correção política" mas também são "o primeiro passo para indiferenciar os seres humanos, para sovietizar e uniformizar os afetos, para outorgar carta de natureza à anomalia, sobre a quak esperam construir seu novo ‘admirável mundo novo’".